Atualidade
Algarve: Quando um teto não basta
Projeto Legos – Apoio a pessoas em situação de sem-abrigo

Os números oficiais apontam para mais de 1400, mas quem está no terreno acredita que há duplicação de contactos devido à mobilidade de um concelho para outro. Serão, por isso, na sua ótica, bem menos as pessoas em situação de sem-abrigo, no Algarve. Referenciadas, na prática, estão cerca de 600. As respostas sociais são várias e, muitas vezes, rejeitadas pelos próprios indivíduos a quem se destinam. Para minimizar a desconfiança de quem vive na rua, cinco entidades uniram esforços e numa estratégia conjunta desenharam o projeto Legos. Com um gestor de caso a acompanhar, personalizadamente, quem vive na rua, é no Algarve que se regista a maior taxa de reintegração do país.
Alcoólico crónico há mais de vinte anos, a viver na rua praticamente todo esse tempo,” Manuel” era o que se designa por “bicho do mato”. Intratável, agressivo, solitário, rejeitava todo o tipo de ajuda, com exceção de comida, quando a fome apertava. “Nunca precisava de nada. Não queria conversa, sequer”, lembra Fábio Simão, presidente do MAPS – Movimento de Apoio à Problemática Social, uma das cinco entidades que integra o Projeto Legos. A iniciativa, financiada por fundos europeus do CRESC Algarve (FSE), está a implementar no terreno o conceito de “gestor de caso” para pessoas em situação de sem abrigo. Uma resposta que faltava para complementar o esforço regional nesta área.
Fábio Simão pega no exemplo de “Manuel” para explicar a diferença: “todos os dias, o gestor deste caso ia à procura dele para lhe dizer bom dia e perguntar como estava. Todos os dias era recebido com palavrões e rejeição”. A situação repetiu-se vezes sem conta. “Até que um dia, em vez de um palavrão, o técnico ouviu de volta um ‘bom dia’”, conta.
Aos poucos, e coincidindo com alguns problemas de saúde do homem em situação de sem abrigo, a resistência à ajuda esbateu-se e a mão que lhe tinha sido estendida foi agarrada. “Neste momento, já não está na rua, não ingere uma gota de álcool, conseguimos arranjar-lhe uma prótese dentária e voltou a sorrir. Continua a ser uma pessoa difícil, mas já se consegue falar com ele. Aliás, tornou-se até muito prestável e disponível.”, explica.
Um gestor para cada caso
A figura do “gestor de caso” estava definida como um objetivo nacional na Estratégia de Intervenção com Pessoas em Situação de Sem-Abrigo. “Já havia várias respostas de continuidade (alojamento), mas muitos utentes não aceitavam as regras, nem a estrutura. Tinham resistência em sair da rua”.
Percebeu-se que era preciso criar um elo. Faltava uma figura que estabelecesse uma relação de proximidade, servisse de ponte e pudesse criar um plano individual de integração. “Não é fácil sair da rua. Ao fim de quatro ou cinco anos nestas condições, o nosso sistema de defesas faz-nos acreditar que vivemos na rua por opção e isso enraíza-se”, explica o coordenador, Fábio Simão.” Esta candidatura aos fundos da CCDR (Comissão de Coordenação de Desenvolvimento Regional) visou tapar este buraco que existia. Em termos de equipas, somos poucos. Um gestor de caso vai até ao máximo de quinze casos, mas se forem complexos diminui para dez.”
Unir para ajudar
A semente germinou quando surgiu o aviso da CDDR de que havia apoios disponíveis. Depressa surgiram ideias para a aposta na construção de equipas de intervenção, inserção social e campanhas de sensibilização comunitárias. Numa primeira fase, pensou-se numa candidatura que integrasse os municípios onde já funcionam Núcleos de Intervenção para Pessoas em Situação de Sem-Abrigo (Faro, Loulé, Portimão e Tavira), mas depressa se percebeu a potencialidade de algo mais abrangente e que envolvesse as várias entidades que trabalhavam na área.
“Criámos uma mega candidatura para dar corpo a um projeto regional. Juntámos sete concelhos (Albufeira, Faro, Lagos, Loulé, Portimão, Tavira e Vila Real de Santo António) e cinco entidades ( MAPS, GATO – Grupo de Ajuda a Toxicodependente, CASA- Centro de Apoio aos Sem-Abrigo; GRATO – Grupo de Apoio aos Toxicodependentes e APF- Associação para o Planeamento da Família), explica o coordenador do projeto. ”Esta parceria entre todos permite uma intervenção regional, o que faz sentido quando trabalhamos com uma população-alvo flutuante, que circula entre os concelhos.”
Inicialmente, a candidatura previa um investimento de 700 mil euros em dois anos, mas a CCDR acabou por aumentar a verba para 900 mil euros. “Conseguimos contratar dois técnicos por concelho, com exceção de Albufeira que optou por três técnicos e diminuiu as atividades”.
Algarve com a maior taxa de integração
Os números são uma dor de cabeça. A cidade de Faro é o exemplo. Oficialmente, há cerca de 120 pessoas em situação de sem abrigo na capital algarvia. Fábio Simão acredita que a fórmula de contabilizar os casos precisa ser revista e que na realidade os números reais andam pela metade. Certo é que a capital de distrito, com as respostas de alojamento criadas, conseguiu a melhor taxa de integração do país, em 2021.” Ao longo do ano tivemos 26 frequências e dessas 14 a 16 são integrações. Pessoas que conseguiram trabalho e habitação”, refere.
É em Faro que funciona o único centro de alojamento temporário do sul do país. Criado em 1996, através de um acordo com a Segurança Social, foram criadas 9 camas, mais uma residência protegida na área do VIH (Vírus da Imunodeficiência Humana), para 5 pessoas. “Recentemente criámos 5 projetos com capacidade para 10 pessoas por concelho. O de Loulé ficou parado, mas em Faro, Tavira, Lagos e Portimão já temos apartamentos partilhados. Estamos a abrir agora mais dois apartamentos dedicados à temática LGBTI (pessoas Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgénero e Interssexo) “
Esta descriminação positiva foi decidida a pensar nos utentes mais jovens, que saíram fragilizados do seio familiar e correriam riscos se fossem colocados em contacto com outros utentes com dependências problemáticas. ”Na prática, em cerca de um ano, o Algarve passou de 14 camas para 70 camas.”, diz Fábio com orgulho. O responsável pelo MAPS e coordenador do projeto Legos olha para a situação social e admite que o número de pessoas na rua possa aumentar. “Qualquer um de nós pode cair na situação de Pessoa Sem-Abrigo”, alerta.
Além das respostas de acolhimento, o desafio passa cada vez mais pela integração na comunidade. “Tornar visíveis as pessoas que deambulam sem teto pela rua, fazer com que a sociedade não lhes vire a cara, lhes permita ir ao café, levá-las ao cinema ou a participar em iniciativas como uma simples peça de teatro são caminhos que ainda faltam fazer”, remata Fábio Simão.
O não desistir de quem caiu em situação de sem-abrigo dá frutos. “Manuel”, o nome fictício de um dos utentes apoiado pelo Projeto Legos, depois de duas décadas na rua, voltou a reencontrar-se com a família: “Tem uma mãe velhinha e dois irmãos, no Norte. Não quis ficar lá, mas telefonam-se”.
O projeto Legos foi concebido para dois anos, mas poderá estender-se no tempo se conseguir novo financiamento.
Foto: DR.
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“Méduse” chega ao MUSCARIUM#11 – Festival de Artes Performativas em Sintra
Depois de passar pelo Festival d’Avignon

O coletivo francês Les Bâtards Dorés estará em Portugal, pela primeira vez, para apresentar o espetáculo “Méduse”, no âmbito do MUSCARIUM#11 – Festival de Artes Performativas em Sintra, organizado pelo teatromosca.
Duplamente premiado no Festival Impatience, em Paris, (Prémio do Júri e do Público) e apresentado, em 2018, no prestigiado Festival d’Avignon, onde foi considerado um dos espetáculos-sensação daquela edição, “Méduse” reabre o processo referente ao naufrágio da Medusa – um dos desastres marítimos mais infames do século XIX. A tragédia atraiu atenção internacional, não apenas pela sua importância política, mas também pelo sofrimento humano e significativa perda de vidas que envolveu. O episódio foi igualmente perpetuado na célebre obra “A Balsa da Medusa”, de Théodore Géricault.
Em “Méduse”, o coletivo francês encena um julgamento que dista 200 anos deste naufrágio: um duelo verbal onde se procura encontrar culpados, uma resposta, uma explicação para os acontecimentos e questiona se será possível formular um julgamento sem se ter vivido a experiência. A partir desse questionamento, a dramaturgia desmorona-se para dar lugar à performance e à experimentação. Longe da História e das suas versões oficiais, Les Bâtards Dorésmergulharão com o público no abismo.
Ainda dentro do MUSCARIUM#11, este jovem coletivo francês também mergulhará no início do processo de criação do espetáculo “Matadouro” em coprodução com o teatromosca, com banda sonora original de The Legendary Tigerman e estreia marcada para 2026. Afirmando a aposta na internacionalização, o teatromosca estará, do mesmo modo, a trabalhar na coprodução que une a companhia de dança finlandesa Kekäläinen & Company, a companhia de dança da Galiza, Colectivo Glovo, e a companhia de teatro Leirena Teatro, de Leiria, “Conversas com Formigas”, que estreará igualmente em 2026.
Celebrando a francofonia, a décima primeira edição do MUSCARIUM contará ainda com mais dois espetáculos de companhias francesas, “éMOI”, de Tiphaine Guitton, pela Petite Compagnie, e “L’Invention du Printemps“, pela La Tête Noire – La Compagnie.
Em 2025, o festival estende-se até à Alliance Française de Lisboa, onde decorrerá um encontro dedicado à criação teatral contemporânea francesa e onde poderá ser visitada a exposição “Micro-Folie”, uma experiência digital que junta mais de cinco mil obras de arte de diferentes instituições culturais.
O MUSCARIUM#11 decorrerá de 1 a 21 de setembro, em vários espaços do concelho de Sintra e reunirá artistas e companhias como a Imaginar do Gigante, MUSGO Produção Cultural, Krisálida, Mia Meneses,María de Vicente e Tristany Munduque apresentará um concerto-performance único na emblemática Sala da Música do Palácio de Monserrate.
A programação completa do MUSCARIUM#11 poderá ser consultada em www.teatromosca.com e inclui espetáculos de teatro, dança, música, performance, debates, lançamentos de livros, conversas e encontros entre públicos e artistas. Destaque para o debate sobre o futuro da cultura em Sintra, no âmbito das eleições autárquicas 2025 e que terá a presença dos principais candidatos e candidatas à presidência da Câmara Municipal de Sintra.
Os bilhetes para os espetáculos já se encontram à venda na BOL e locais habituais, com valores que variam entre os 5 € e 7 €. O concerto-performance de Tristany Mundu tem o valor único de 12 €. Os ensaios abertos, debates, lançamentos de livros, encontros e a festa de encerramento do festival são de entrada livre.
Imagem: DR.
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Torne-se amigo da Metropolitana de Lisboa na temporada 2025/2026

A Metropolitana de Lisboa, criada em 1992, desenvolve um projeto único no contexto nacional e muito raro no panorama internacional. Assenta o seu valor numa atuação transversal, cruzando o ensino especializado com a prática da música. Uma orquestra (OML) e três escolas (Conservatório de Música, Escola Profissional e Academia Nacional Superior de Orquestra) dão corpo a este projeto musical de eleição, que tem vindo a formar centenas de músicos profissionais.
O quotidiano da Metropolitana caracteriza-se pela convivência de diferentes gerações num mesmo edifício (a sua sede, instalada no edifício da antiga Standard Eléctrica, em Lisboa), com a energia inerente à intensa partilha musical entre alunos, professores, músicos profissionais e funcionários administrativos.
Para que este projeto possa consolidar-se e crescer, não basta a atividade que todos eles desenvolvem. A música que fazemos tem como destinatário o público. Sem ele, a nossa missão ficaria incompleta; com ele, ainda podemos fazer mais.
Junte-se aos Amigos da Metropolitana, um grupo de associados que, através do seu contributo e da sua presença, é chamado a participar ativamente na vida da instituição.
Imagem: ML.
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Barcelos recebe o XXIV Congresso Mundial de Saúde Mental
De 30 de outubro a 1 de novembro de 2025

O Município de Barcelos, a Coordenação Nacional das Políticas de Saúde Mental e a World Federation for Mental Health anunciaram a realização, pela primeira vez em Portugal, do Congresso Mundial de Saúde Mental, evento de referência internacional com mais de sete décadas de história.
O congresso terá lugar em Barcelos, Capital Mundial da Saúde Mental, entre os dias 30 de outubro e 1 de novembro de 2025, e será subordinado ao tema: “Mental Health and Social Sustainability: A Whole Society and Community Based Approach”.
A iniciativa tem como objetivo reunir especialistas, académicos, profissionais de saúde, representantes institucionais e organizações da sociedade civil, promovendo uma abordagem transversal e colaborativa aos atuais desafios da saúde mental à escala global.
Encontram-se, atualmente, abertas as inscrições para a submissão de abstracts, bem como as inscrições gerais para participação no congresso. Até ao dia 8 de agosto de 2025, esteve disponível uma tarifa reduzida para todos os participantes.
Todas as informações detalhadas sobre o congresso, prazos e procedimentos de inscrição estão disponíveis no site oficial: https://wfmhcongress2025.com.

Imagem: CMB.
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